sábado, 16 de abril de 2016

Chaves do passado




Amanheci triste naquela manhã fria de sábado, eu me lembrava da Lívia, de todos os momentos que passamos juntos. Fazia um pouco menos de um ano do término de nosso namoro e agora percebia o tamanho do meu erro quando me permiti perder Lívia... Agora sabia que eu a amava. Agora depois de cometer tantos erros, agora que já é tarde!
Decidi após o almoço ir até a casa dela. Sabia que ela trabalhava aos sábados, e assim, não a encontraria em casa. Peguei a cópia da chave de seu apartamento. Torci para que ela não tivesse trocado a fechadura. No caminho comprei um buquê de lírios amarelos, sua flor preferida. Lembrei de sua fala alegre e cheia de esperança: "Quando nos casarmos, o meu buquê será de lírios amarelos! O que acha, Christian?". Eu respondia sem dar importância: "Claro, amor! Faça como quiser!". Arrependo-me de não ter dado mais importância a momentos como aquele.
Cheguei à porta do prédio, toquei no bolso do sobretudo onde estavam as chaves... Respirei, passei pelo porteiro que há tempos não via, mas que tão bem conhecia.
-Boa tarde, Seu Christian!
-Tarde, Amadeu!
-Como vai?
-É... Tentando viver!
-Entendo...
-Peço licença, Amadeu, mas tenho que subir!
Não esperei a resposta de Amadeu. Passei os dedos pelas pétalas dos lírios enquanto o elevador subia até o 12º andar, o andar de Lívia... Segundos depois, eu estava em frente ao seu apartamento. Coloquei a mão direita no bolso do sobretudo. Apertei as chaves em minhas mãos. O meu plano era simples. Ficaria no apartamento até Lívia chegar, e, quando ela chegasse, tentaria reatar o namoro, sim, eu ainda a amava. Finalmente destranquei a porta. Dei de cara com a sala, o lugar que costumávamos ficar, assistir filmes abraçados...Às vezes ela pegava no sono, quando eu escolhia o filme e então a minha diversão era observar a forma angelical em que ela dormia sobre meu peito. Coloquei o buquê na mesinha de centro. Arrumei os CDs que tantas vezes ouvimos juntos. Separando-os entre MPB, rock, pop, sertanejo... Observei a decoração e a organização dos cômodos. Nada além dos CDs bagunçados havia mudado. Parecia que eu nunca tinha deixado de frequentar ali...
No quarto em que Lívia usava para desenvolver seu trabalho (ela era jornalista) lembrei de uma vez em que estava bravo com ela. Já foi próximo ao fim do nosso namoro. Ela tinha acabado de ler sua mais nova reportagem: "O que achou, Chris?". Eu insensível respondi: "Legal! Realmente bom, abordar o tema drogas...". Ela chocada disse: "A reportagem é sobre adoção tardia, Christian!". "Ah, desculpe, estava desatento!". "Você vive desatento, ultimamente!". "Não tenho culpa se você anda sem paciência!" Simplesmente saí. Naquele dia tinha bebido um pouco com os amigos. Não percebi meu erro, mas no dia seguinte fui desculpar-me.
Entrei no outro quarto. O qual ela dormia. Abri seu armário. Abracei algumas de suas roupas. Todas elas com o seu cheiro. Na parte dos sapatos reconheci os tênis que eu dei para ela. E na parte de cosméticos o restinho do perfume que fora o presente que eu dei no último dia dos namorados.
Voltei até a sala de estar. Sentei-me no sofá. Agora era só esperar meu amor chegar. Passara-se quinze minutos que eu assistia TV, quando o telefone tocou. Eu cheguei a tocá-lo, mas lembrei que ainda não tínhamos reatado. Deixei a secretária eletrônica atender. Sua voz doce disse calmamente: "Oi, aqui é a Lívia Fernandes, no momento não estou, mas deixe o recado que retorno assim que puder". Sorri ao ouvir sua voz, mas logo o sorriso no meu rosto deu lugar as lágrimas. Uma voz masculina disparou: "Li, te espero no restaurante de sempre, às oito. Beijos te amo!".
Chorando, abri a agenda que ficava no quarto onde ela trabalhava, a qual Lívia usava como diário. Só então entendi. O dono da voz era um tal de Thiago Gouveia, seu atual namorado. Fechei a agenda, deixei-a exatamente como a encontrei. Ainda chorando peguei os lírios, tranquei a porta, corri chorando pelo prédio, joguei as chaves do apartamento de Lívia na primeira caçamba de lixo que encontrei, despedacei as flores e joguei em um canto qualquer... Naquele dia, tranquei-me em meu quarto, não queria saber de nada... Eu amei Lívia, e ainda a amo, mas não posso fazer nada... Eu a perdi!



Biografia da autora: 
Meu nome é Letícia Giovana, tenho 18 anos e desde cedo desenvolvi grande gosto pela literatura. Gosto tanto de ler quanto de escrever, o que despertou em mim o desejo de ser escritora. Na escola em que cursei o Ensino Médio, ganhei alguns concursos literários o que fez com que ficasse ainda mais motivada. Atualmente, sou estudante de Letras (curso o qual possibilita meu aprofundamento na área pela qual sou apaixonada), estou finalizando um original e mantenho um blog em conjunto com um canal. Nas horas vagas, gosto de ver filmes, escutar músicas e realizar atividades que sirvam de inspiração para meus textos.

Divulgação do Trabalho:

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